O ATOR

(Poema a qutro mãos, de uma conversa com Sérgio Cardoso)

Desligar tudo
Não ver que há risos
e gente tossindo no balcão
Não saber que poucos irão além
da máscara da face
e que é só dos eleitos
sentir o canto das palavras
Não temer que a magia
se perca nos detalhes
e rostos de pedra
maltratem lágrimas por nascer

Desligar tudo
Não ver a platéia
— não há mais platéia
Crer que se movem os cenários
Viver as luzes, appelões, gambiarras
Sentir o frio inexistente
e acolher com humildade
outro nome
outra vida
um sentimento maior
e fugir, no personagem
para o alto
bem alto

                                            Mauro Salles

Do livro: O Gesto, Massao Ohno Editor, 1993, SP

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