MADRIGAL
O loiro Júlio um passarinho caça,
E a doce Estela vem-lhe ao pensamento:
"Vou dá-lo à Estela, diz com brando acento,
À Estela cheia de candura e graça".
Põe-no sob o chapéu (que em tal momento
Lhe falta uma gaiola), e, enquanto passa
A catar algum vime com que faça
A gaiola, estas frases solta ao vento:
"Em paga disso um beijo, um só me dares,
É pouco: mais de dez, mimosa Estela,
Te hão de roubar meus sôfregos desejos..."
Mas o vento o chapéu lhe arroja aos ares:
A ave, liberta assim, voa... e com ela
Lá se foram também todos os beijos...
Raimundo Correia
Envio de Glauco Mattoso