Um poema para Leila nessa campanha de maravilha do mundo

Olho as matas.
As antenas de tv e de celulares
Me comem a paisagem diante de mim.
Nesse mar espelho os ais de minha cidade
Tão bela, tão esquecida da gargalhada das noites.
Nela espelho a violência.
Apesar de estar com os braços abertos
Nem sempre recebo bem os crédulos de mim.
Do alto dissipo imagens de crianças drogadas.
Minhas narinas não querem sentir o cheiro de podre
Dos mangues e das favelas sem cor.
A alegria de Cartola
Desmoronou-se no canto de D2.
A batida do samba
É igual, certeira como um tiro perdido.
Não tem mais a malemolência
Dos ritos afros.
É dura como a vida dessa cidade.
Nos cantos dessas paisagens
A Urca se dá em meio ao mar:
Barcos na enseada.
Releio a cidade maravilhosa.
Barulhenta
No agito de vida e morte.
Curvas e requebros decoram
Seu espetáculo.
Magnificat!
Jobim e Chico me adoram
Vinicius nem se fala!
Mas pra mim
A maravilha é
Ficar espraiado
Aqui em cima
Como um Apolo
Longe do turbilhão dos dias e das noites
Quando sol e lua me chamam
Para olhar essa paisagem.

Quem sou eu?

                                          Vera Casa Nova

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