À mestra-de-obras com o nome de Poesia
se a poesia arranca de nós
o que não podemos guardar
desfaz e aumenta
cria lacra
berra e muitas vezes até nos arrebenta
o que seria de nós sem ela
eu me pergunto
como chegaríamos à ponta de um destino
como ficaríamos por conta de grandes ou pequenos desatinos
que nós mesmos buscamos
cometer
como secaríamos de amor num sol ardente
junto à sarça
que arde arde
sem parar sem se consumir
como que a desenhar em nós
sua representação bíblica
como faríamos com nossas explosões
ou com nossas prisões
se não pudéssemos abrir a boca
[e até fechar
desandar a escrever o que já de há muito
está armazenado
como seria nossa vida
sem o fruto consistente da maçã
que nasce em nós
e que o vemos
como algo de fruir mostrar ao mundo
ou só saborear
Tu és demência justa
amparo
angústia
inseparável fonte
silo doce e cruel
onde está armazenado
nosso Ar
Eliana Mora