À MORTE
A morte
parece uma sentinela
com seus olhos na janela,
traspassando minha alma
na hora que a dor em mim começa,
lentamente, sem ter pressa,
com a sua espada em brasa.
A morte
vem me visitar em casa,
e continua sem pressa.
Seus olhos não me olham da janela,
estão dentro de minh'alma.
A morte,
sob o cobertor, me abraça
e sem pudor me aperta.
Parece ser uma graça,
mas não passa de desgraça
quando a morte me supera.
A morte,
em silêncio e descalça,
uma dama bela e falsa
que pela dor me desperta.
Tão consciente que é certa,
a morte exala
o perfume de minh'alma,
pelas rótulas da janela.
VISITA AO VELÓRIO
Eu te vi deitada,
você não sorria.
Só a morte via
que você chorava.
Ainda criança,
de nome Maria.
Como adormecida,
por ninguém, velada.
O que esperava?
Juro, não sabia.
Uma pele fria,
embora enrolada.
Rosa, não havia.
Mas por que cheirava?
Perfume da vida
que a morte exalava.
João Felinto Neto