MEDO DA CENA

Montar esse dragão
que expele eus pelas ventas furibundas.
Vencer o medo do palco,
montar em sua corcunda,
cair mil vezes no pó,
levantar, lacerar o ser na navalha
do ar.

Montar sem medo do medo da cena
que nos assalta nos bastidores
qual ogro nascido em caverna de merda,
sem medo de esquecer a persona,
montar, chorar, sorrir, e amar
a platéia que não nos ama sem interesse.

Montar, cavalgar para dentro, para fora,
cismar, verter sangue coagulado na
angústia das horas, pois, sem angústia e
náusea não se faz um bom café dramático.

Montar esse dragão resfolegante e se perder
no poder do teatro, nem aí para as dores do dia.
Foda-se o dia. Quero representar minha própria ressurreição.
Viver de novo a partir do medo do medo do medo do medo.

                         Natanael de Alencar

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