CAIPORISMO

Um dia um caipora, baixinho, gordo e nu,
montou num caititu e foi pro mato afora
fazendo um sururu dos diabos.

E logo todos os bichos se amoitaram e só
saíram aos cochichos, aproveitando o pó
da noite que tecia seu mato de jaó.

Mas um dia um velho goiano (seis mortes, por aí)
arrumou seu jirau sobre um pé de pequi
e ficou escuitano jaó e juriti.

Esperava vendo e só então deu fé
naquilo que a seu lado parecia de pé
e tinha o corpo todo seco que nem sapé.

Quem não teme o diabo e arreliado está
sabe bem que no cabo de sua faca só há
sangue de coisa ruim, cheiro de coisa má.

Com três golpes no umbigo matou o caipora.
Mas quando ia embora viu-se sozinho e nu
montando um cairitu e indo pro mato afora
fazendo um sururu dos diabos.

                                    Gilberto Mendonça Teles

Do livro Saciologia Goiana, in Hora Aberta - Poemas Reunidos, Editora Vozes, 4ª ed., Petrópolis, 2003

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