Aí,  o que me dizes de ser mulher?

A noivinha branca com a ponta da cauda negra vendo o gelo cair do céu e matar o curinga.
Sentada na borda-do-campo com um jardim inteiro florido vive em culturas
Uma matando a outra
Excluída nua ou vestida sempre aquele objeto de desejo
Amada ou apedrejada

Aí, o que me dizes de ser mulher?
Movida levada pelo tempo maduro
Chegança apertada alma extravasada
Corpo adormecido nos nervos já de plásticos
Sentimentos múltiplos e humilhação guardada na alma furada.
Quimera és o tempo todo
Soltamos fogo pelas ventas que ardem de indignação

O pudor e fraqueza que ainda temos nas mãos
Guardam o odor das espécies
Entendem bem agora as lutas travadas

Maria Madalena confessa
Não houve brilho houve sim um pesar forte e cortante
Como o trovão prevê o raio!
Maria sabe pouca opção ter
  Acata e silencia a dor com o coração aflito
Em canteiro inteiro brotado!

Nos olhos do mar mira, sabe que será invertida
Pois é assim que o abuso religioso o faz
Excluída como nós o fomos por séculos

Arrastadas ao inferno por ser mulher
Agora... O gozo último a gargalhada afinal
Afinal sabes o que é ser mulher?

Neuza Ladeira

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