Rio Potengi, meu companheiro

Ah! Meu doce e sempre companheiro
Viste meu primeiro suspiro, verso ao vento.
Acolheste-me em teus braços de leite
Leito das bravuras adormecidas em meu peito.
Nuvem dourada no arrebol do dia.
Trazes no sorriso a inocência do infante
E nos fartos lábios o mistério secular dos anos.
Com sabedoria alimentaste meus sonhos
Sem esquecer os sobreviventes dos teus frutos
Heróico povo ribeirinho com barcos e velas de pano.
Vi o beijo do verde e largo Tejo - mar português
Vi a sinuosa poesia do boêmio Sena - flor parisiense
Vi então através d'um véu d'água salobra
A prata estonteante dos fios dos teus cabelos
Quando a lua cheia derrete-se lá no firmamento
E faz bater no meu peito acordes de saudade
Então me veio vontade louca de correr para teu peito
Só para aninhar-me outra vez em teu morno leito.
Ah! Meu doce e sempre companheiro
Companheiro da tristeza, da alegria, da resistência.
Enxugaste minhas palavras de desesperança
Para demonstrar que na rua da vida
A constante rima tem que ser sempre com esperança.
És meu rio de ontem, de hoje, de sempre.
Lavadeira de minhas magoas, exaltação de meus brios.
Revelação do espelho do meu íntimo
Em eterna corrida entre teus mornos braços.
Ah! Meu doce e eterno companheiro
Lado a lado sempre a cada novo sol
No embalo das palhas de coqueiro
Quando o bem ti vi fagueiro paquera o pôr do sol
És minha memória no traço das minhas vitórias.


                            Jania Souza

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