DIA DO ESCRITOR

       ... as coisas  “dançam nos pés do acaso”  (F.Nietzsche)

escrever é:
juntar letrinhas
sentimentos
entre-laçar pontos, linhas
saltar distâncias, fazer um bordado
atravessar  paralelas curtinhas
juntar figuras de linguagem ...
dançar um lindo balé
voar mais alto
ver como os gaviões
lamber areia feito mar...

é tirar sons de castanholas
de velhos teclados
desenhar sonhos
correr feito rio
sentir nos pulmões ventanias
soprar o aroma das manhãs...
é deixar escorrer o néctar do coração
purgar salivas ancestrais
espremer  e esticar o cérebro...
aconchegar como uma mantilha de lã...
é brincar na areia nas tardes de sábado
construir castelos de areia, de sonhos ...

é rolar entre as folhas do outono
beijar flores, respingar orvalho sobre os lençóis
fazer amor com a humanidade...
é aprender a calma das pedras
a beleza das nuvens...
é cantar e fazer-se ouvir em silêncio
despertando as próprias canções do leitor
é apurar ouvido, escutar sinfonias
dos gramados, riachos,colinas,florestas...
navegar, flutuar com velas içadas
entre canais estreitos e mar aberto...

escrever é:
das estrelas tentar aprender rumos
navegar e mergulhar em profundas águas
desvendar mistério dos mares de si...
perder-se de si
para reencontrar o luar...
é permitir a si e ao outro
o baile do florescer primaveril
e dançar  as nuvens de algodão 
enamorar-se das fronhas que sabem guardar segredos...
talvez mais...
talvez menos...

  es-crê-ver... é sempre um devir infância...
     Afirmação da VIDA!

                                                 Virgínia Fulber

voltar