"O Almanaque de Pernambuco para o ano de 1900, publicado no Recife em 1899, transcreveu a seguinte carta: “Remeto para seu Almanach um soneto de uma jovem e gentilíssima patrícia nossa, feito em represália a outro de conhecido poeta desta Capital em que vomitara-se impropérios de toda a sorte contra o belo e delicado sexo, que constitui o encanto de nossa vida e o consolo de nossa existência.
            “À sua inteligente autora, que apenas conta 15 anos e possui muitos outros versos que oculta modestamente no seu pequenino escrínio de ébano, consegui subtrair o soneto que submeto á sua apreciação, solicitando à distinta poetisa perdão para o meu abuso de confiança.”
            Infelizmente não conseguimos encontrar em nenhum jornal do Recife ou do interior de Pernambuco estes “outros versos” de Georgina, nascida em 1884.


Em Resposta

            Oferecido ao autor do soneto intitulado Fim às Moças e publicado num dos jornais desta Capital

Essas que queres ver no fundo pego imersas
Sem dó, sem compaixão, assim barbaramente,
Não lhes valendo, ó mau, o belo olhar dolente
Os tesouros do amor, as graças mil diversas;

Elas podiam ter o fim que lhes desejas,
Se os homens, como tu, só fossem vis panteras,
E afagassem no peito (uma jaula de feras)
As mais torpes paixões, as mais cruéis invejas!

Qu'importa à linda flor, as flores perfumosas
Que ostentam na corola, altivas e formosas
Perfumes tão sutis, que aos pés sejam calcadas

Por patas de animal feroz que as despedacem?
Essas patas de algoz, quando por elas passem,
Do profano pisar saem logo perfumadas.

                                              Georgina de Medeiros

Do livro Em busca de Thargélia – Poesia escrita por mulheres em Pernambuco no segundo oitocentismo (1870-1920), org. Luzilá Gonçalves Ferreira, Tomo II , FUNDARPE, 1996, Recife/PE
Enviado por Leninha

voltar