Que sobrevivam os textos às pedras

ainda um texto líquido
que de repente pode mover-se
arrastar-se ou pender
[qual pingo d'água
deitar-se à beira de um riacho
a contemplar sobras de algum dia muito claro

ainda líquido
penso que jamais será um texto com outra consistência
até porque nasce de dados bem antigos
e eles espiritualmente
tendem a manter a mesma densidade

líquido
porque teima a lágrima em rascunhar esses caminhos
nossos traços a sorver e a guardar
a umidade
que o tempo desafia

porém
porque textos teriam de se enrijecer?
tal consistência fica mesmo para as pedras
que irão sobreviver
[ainda que com outra geografia

a todos nós

                                                    Eliana Mora

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