Nos Toques do Atabaque

A aura lilás rodeia a sua pele,
imprime a força ancestral no couro
o atabaque, a antena da raça,
parabólica dos orixás.
O toque do atabaque
tangencia o ar, o vento, o fogo e a água,
nos quatro pontos cardeais
que independem das pedras,
dos ferros das casas, dos prédios,
êxtase da clarividência, nirvana,
transe de Dionísio em comunhão
com o Cosmo.

O som do atabaque penetra
bate mais fundo do que aoferenda
bate mais fundo do que fixar tenda.

Melodia no ritmo do coração
das raízes com aroma de cana,
de açúcar mascavo,
destila a cachaça das senzalas desidratadas,
que engasgam pelas brasas curtidas
os gritos das almas sofridas,
rapadura da vida escravocrata.
Seu choro negro é música,
manifestação democrática,
onde dançam homens, mulheres, crianças
e deuses, que inspiram a luta, o desejo
e a guerra entre nações.

Bate fundo atabaque
sensorial da filosofia empírica,
zabumba batucando
o coração da gente, disparando
mensageiro da vida paralela,
ILá de Oxalá, pomba branca que anuncia
a porta aberta de passagem da harmonia,
na música dos dedos do ogan percussionista,
a sabedoria da África na pista.

                               Rubens Shirassu Júnior

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