Cor Cordium

Quando eu morrer, procura uma árvore florida,
e cava-lhe no tronco, amada, o meu caixão:
quero que ai repouse o meu corpo sem vida,
longe do humano olhar, dentro da solidão.

Cante-me o réquiem triste a voz da água perdida...
Reze por mim o vento a sua alta oração...
E seja-me o silêncio a lápide escolhida:
- que vale, neste mundo, a maior inscrição?

E, um dia, quando tu, minha doce Querida,
fores ver-me (talvez o tronco esteja são);
para que aches, sem custo, a árvore preferida,

farei cair da altura um fruto em tua mão,
fruto que, ao te roçar a palma comovida,
irá tomando a forma e a cor de um coração...

                                          Cleomenes Campos

Do livro: Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou, org. J. G. de Araujo Jorge - 1ª ed. 1963, 1ª ed.,

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