Querido Papai Noel

Quero continuar escapando da morte
Sempre na minha cola a galope.
Se eu não conseguir, manda o povo
Ir pras ruas dizer que é golpe.

*

Desejo ter cabelos no alto da cabeça,
Black power, alisado, cabelo à beça.
Aceito até um estilo punk,
Menos o topete do Trump.

*

Gostaria de ser pobre apenas um dia,
Não mais o ano inteiro.
Pobrice se aprende rápido,
Prolongar é exagero.

*

Me traz aquela gostosa
Do pornô virtual,
Que nunca vi por aqui
Na vida real. 

*

Pedido difícil, sem truque,
Sem emojis e veleidade:
Reúna meus amigos do Facebook
Para que a gente finalmente se conheça
De verdade.

*

Sem abusar, me dá de presente
A força de vontade para largar o cigarro
E suas trocentas substâncias de catarro.
Vai ser um alívio
Trocar esse vício
Por algo melhor e impoluto,
Tipo cachimbo ou charuto.

*

Ah, sim, Papai Noel,
Se ano que vem eu for virar pastel
Que antes me converta em árabe maluco
Para encontrar 3 mil virgens no céu.
Destino louco e torto,
Nunca vi uma aqui na terra
Que eu veja lá depois de morto.

*

O senhor já nasceu assim,
A minha foi crescendo chinfrim.
Exijo uma pança tanquinho,
Ou menor uns dois metrinhos.

*

Ponha na lista uma dieta novidadeira,
Vai ser bom ter o que conversar
Nos almoços sociais sobre besteiras
E não sobre filosofia, poesia, palimpsestos,
Assuntos estes tão indigestos.

*

Por fim, bom velhinho lesado,
Tira de mim essa compulsão
De pedir que comprem e leiam, abestado,
Meus livros nesta comemoração.
Ninguém lê ninguém e ponto.
Quem ainda lê é poeta ou tonto.

Ulisses Tavares
Natal 2016-11-12

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