A Palmeira da Serra

Ó palmeira da serra
Que eu vejo todo o dia
A batalhar em guerra
      Com a ventania,
Ó palmeira da serra,
Mais do que a ti, me agita uma estranha agonia!

A minha vida inteira
É contínua ansiedade;
É como tu, palmeira,
      Na tempestade,
A minha vida inteira,
A minha vida, o amor, a tristeza, a saudade.

Ó palmeira da serra,
Quando repouso um dia
Hás-de ter nessa guerra
        Com a ventania?
Ó palmeira da serra
Quando verei também findar esta agonia?

Alto de Serra

(Manhã)

Efunde a urna de Aquário a espaços o chuveiro
Que as flores lava, os brotos abre, o ar purifica.
Bebo-te, ó sazão forte, a seiva agreste e rica
Neste cheiro de chão de serra, que é o teu cheiro.

Já seu nevado véu de rendas o espinheiro
Solta; do ingá polpudo a árvore frutifica;
No álveo de areia e pedra e piscas de ouro e mica
Fartas rolam, cantando,as águas do ribeiro;

Um dia novo a tudo acaricia a banha,
Que bom fôra já ter morrido, para agora
Ver-me esparso em cristais, folhas, eflúvios, lumes!

Para sorrir ao sol que doura esta montanha!
Para chorar no tom com que este rio chora!
Para elevar-me aos céus em névoas e perfumes!

                                                         Alberto de Oliveira

Do livro: "Antologia Nacional", org. Fausto Barreto e Carlos de Laet, 39ª ed., 1963

« Voltar