Terra Devastada  

A terra exausta e infecunda
Caminha para a morte inteira e rápida
Pois os filhos pecadores põem termo cólera
Estripando prados e montanhas a ferro e fogo
Em insana demanda tresloucada
O berço onde túmidas águas rolavam
E se agitavam exuberantes matas verdes
Hoje são gritos que reboam entre a fuligem,
Dos carcarás pescando lebres sapecadas
Para ir fazer o seu banquete tão sinistro
Lá no cimo da galhada estorricada
Árvores levantam os braços retorcidos
Através do fumo denso das queimadas
Gritos, silvos, guinchos, algazarra: clamor uníssono,
Arrastam-se com o ventre sobre a borralha
Procurando ardentemente alguma brecha
Que os livre o quando antes da fornalha,
E corre, corre, a bicharada vai circulando
Até se verem pelo fogo circulados
Velho Riacho se arrasta manquejante
Pois há tempos já perdera a bengala
Rasparam-lhe os cílios e a barba
Sulcaram impiamente o seu costado,
E a última pindaíba que sobrou,
De tão corcunda, descascada e apodrecida...  
Não serve para representar sua mortalha
Então à Terra exaurida e devastada  
Nada mais resta que lamentar o seu fracasso.

                                     José Mattos

Enviado por Clarice Villac

« Voltar