Monólogo

O que ouves
E interpretas como acalento
Nada mais é que meu lamento

Insensíveis poluíram-me a nascente
Relegaram-me ao apodrecimento
Quando priorizaram o desmatamento

Alteraram meu curso natural
Represaram-me sem nenhum acanhamento
Em nome do progresso, mas da vida em detrimento

E agora quando quase nada mais me resta
Quando irreversível é meu assoreamento
É difícil, mas não impossível o meu reaparecimento

Basta que seus semelhantes
Não me tinjam com seus excrementos
Basta que apenas mudem seus procedimentos

Quero correr livre e puro como nasci
Levando água para o mais distante povoamento
Com fartura de peixes e vida em todo momento

Quero de novo saciar a sede do ribeirinho sedento
Quero de novo abrigar a piracema, festejar o nascimento
Comemorar a vida sem nenhum impedimento.

Quero desaguar lá longe
Caudaloso, majestoso, orgulhoso, ressuscitado.

Mata Atlântica

(recado aos insensíveis)

Mata é substantivo
Não é verbo.
Não confunda quando se diz Mata
Com desmata.
Mata Atlântica é floresta, é vida
Não é matar a floresta em vida
Nem fazer Lei de cunho associativo
Visando o lucro obsessivo
Do Capital Extrativista especulativo.
Mata Atlântica é floresta
Que estão matando de caso pensado
Com serra elétrica ou com machado.
Mata Atlântica é algo que resta
É a preservação da vida em festa
É a conservação de uma pequena fresta
De tudo que a história atesta
Ter sido uma exuberante e imponente floresta!

Carvalho de Azevedo

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