AO CURUPIRA

Acorde, Curupira, acorde e venha
salvar seus sítios, defender seus matos.
Olhe, já não há selva ou bosque ou brenha
que o homem não sujou com seus sapatos.

Contra o machado, a foice, a mão ferrenha
que ataca, e ali comete assassinatos,
corra a mostrar amor a quem não tenha,
livrar seu povo desses insensatos.

É você guardião da bidharada
e fiscal da floresta, irmão na Terra
de São Francisco, o grande protetor.

Acorde, a selva está sendo assaltada
pelos dentes cruéis da moto-serra,
pelos tiros mortais do caçador...

A ÚLTIMA ÁRVORE

Eis o engenho fatal que não emperra,
e derruba, e destrói, e vai matando
bosques, florestas, árvores em bando,
pior do que a pior arma de guerra.

Tendo as mãos de Satã em seu comando,
eis o invento infernal! — a moto-serra,
em desertos a Terra transformando,
para acabar com a vida sobre a Terra.

Tudo, em seus dentes de aço, ela tritura,
caem jequitibás de grnade altura,
como a dizer que o mundo vai ruir.

Pior nas devastações que nos consomem,
na terra há de tombar o último homem
quando a última árvore cair...

                                                Orlando Brito

Do livro: Sonetos, João Scortecci, 1996, SP

 
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