De estômagos e laboratórios

Os peixes em nossa goela
A carne dos bois
As costelas
Dependuradas
No gancho
Da nossa consciência
Tranquila e dopada

As galinhas enclausuradas
O ovo tomado de hormônio
A peladeira do cão
Os eletrodos no gato
O olho triste do macaco
O rato com o tumor
Que é nosso.

Desastre ecológico

Pombinha pobre, pobre pombinha
Tive dó, quis te pôr as mãos
Freou-me a Vigilância Sanitária
Os medrosos afastaram-me de ti
Falaram de tuas doenças
Tu deves ter ido à Índia
À Serra Leoa e ao Brasil
Estás, pombinha
Triste leprosa sem meio pezinho
Debaixo da mesa do bar
Em que como
Macarrão à bolonhesa
Da carne de um boi atropelado
Por mil hormônios
É certo
Que ele comeu a grama
Em que cagaste.

                Adriane Garcia