PLANTAS

Pretendo aprender com as planas de minha sala de estar,
as quais, além de flores, dão-me analogias.
Com minha pequena roseira, teço considerações
sobe a importância de se podar os galhos e as relações,
para que possam florescer novamente, brotos irrompendo
onde a seiva se restaura e corre plena.
Também, acontece, às vezes, que descubro verdades
enoveladas nas folhas e tubérculos.
Como quando podei uma planta sem necessidade,
e descobri que suas flores renasciam, malgrado meus erros,
e eu poderia deixar por sua própria conta o renascer.
Já pedi desculpas às plantas como nunca pude fazê-lo com as pessoas.
E, certa vez, nunca me esqueço dessa lição do mundo vegetal:
plantei rosas e nasceram azaleias.
Sem recorrer às misticas explicações, eu soube,
que, naquela terra onde plantei, alguém plantara antes,
e as sementes de ontem foram mais resistentes e mais fortes...
Quando afofei a terra, outra vida floresceu,
adubei o que não vi e fiz nascer o que era insuspeitado.
As plantas são fáceis de entender,
e talvez a vida o seja também, se se aceitar que, eventualmente,
é natural obter azaleias com um desejo de rosas.

                                                                                      Lúcia Afonso 

Do livro: Delicadeza, Col. Poesia Orbital, 1997, Belo Horizonte/MG

« Voltar