Sobre a morte de José do Patrocínio

I

Crestada ao sol de atroz verão, pendia
A tulipa do Sonho e do Talento.
Mas quem da rara flor perto sabia
Que ela soltava o derradeiro alento?

Por que motivo hoje é tão claro o dia
E anda no céu este deslumbramento?
Da Natureza, oh! Trágica ironia!
— A terra em luto e em gala o Firmamento? —

É que Tu, mais ao céu que à terra inteira,
Estendias teu mágico domínio!
Águia pairando à cérula fronteira!

Não te queria o céu ver em declínio,
E se te chora a pátria brasileira,
Ele em pompas te aguarda, Patrocínio!
 
 

II

Hoje, afinal a Terra reconquista
Todo o seu grande e maternal direito,
Recebendo em seu seio o Filho Eleito,
— O, da palavra, Poderoso Artista!

Que o nunca repousado Jornalista
Tenha repouso, enfim, no eterno leito!
E aos funerais de um Justo e de um Perfeito,
O mundo inteiro comovido assista!...

Ninguém mais rico em gênio, nem mais nobre.
Entanto, Esse que baixa à sepultura,
É um nababo que morre humilde e pobre!

Negro feito da essência da brancura,
Esse que a Terra hoje em seu seio cobre,
Sóis porjeva pela pele escura!

                                                                           Emílio de Menezes

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