Busco explicar um sonho em que pintei Dali

chamas dão-se ao vento em agonia
dissolução líquida
lúcida
tramas milenares transformam-se em contas
e se soltam desenham asas
para o tempo de um remoto dia

esquecidas
veias e luas em simbiose de vermelho
misturam-se a pedras destruídas e granito
flechas e facas atravessam tela e ar
renascem flor a explodir um sol escuro
estrela nova de um mundo estranho

impuro
pressentimento é caos e nuvem
radiativa
sopro derramado num corpo de mulher
coração a fraquejar risco e tecido
teares
tons distorcidos
[e o tempo escorre]

esta noite a delirar
diria ter pintado uns brilhos de cristal indestrutível
na loucura e no negror

do teu olhar

                                                          Eliana Mora
5/DEZ/2005

Para Salvador Dali