FRIDA

Entrei na casa azul de Frida,
No jardim esmeralda
Havia cactos,
Macacos,
Flores em grinalda.

Da janela,
Vi Frida
Mergulhada na cama,
Boiando em mágoas,
Coluna partida
Refletida no espelho.

Estava abatida,
Mas seus olhos negros
Sob os arcos das sobrancelhas
Brilhavam
Em pensamentos mágicos;
Um colar de espinhos
Rodeava seu pescoço
E um gato preto
Dava-lhe uma lambida.

Tão sofrida,
Alma perdida
Em mais uma paixão bandida,
Corça ferida
De cabelos cortados
Sob um véu branco
De renda franzida.

Frida
Apodrecida
Como um fruto,
Mãe parida
Que expulsara a dor
E o universo
Pela pélvis perfurada.

Frida,
Vestida de veludo,
Senhora soberana,
Estrela arremetida em frangalhos
Na noite mexicana.

                            Raquel Naveira