ANDERSON BRAGA HORTA - Nasceu em Carangola, MG, em 17.11.1934. Seu pai, o advogado Anderson de Araújo Horta, e sua mãe, Maria Braga Horta, eram professores e poetas. Morou em cerca de dez cidades de Minas e de Goiás. Começou o ginásio em Goiânia, concluiu-o em Manhumirim, fez o clássico em Leopoldina, antes de ir para o Rio de Janeiro cursar direito. Transferiu-se para Brasília em julho de 1960, no cargo de redator da Câmara dos Deputados, a cujo serviço fora admitido em 1957 como datilógrafo. Aposentou-se como Diretor Legislativo. Exerceu o jornalismo e o magistério, tanto no Rio quanto em Brasília. Seu primeiro trabalho, contudo, foi como securitário, na Velha Capital, a não ser pelos meses em que lecionou no Seminário de Leopoldina, cidade em que prestou o serviço militar (tiro-de-guerra). Casou-se no Rio, em 1962, com a capixaba (de Cachoeiro de Itapemirim) Célia Santos. No ano seguinte nasceram os gêmeos, brasilienses, Anderson e Marília. Fez o primeiro vestibular para a UnB, iniciando o curso de Letras Brasileiras, que não chegou a concluir. • Ideário: Pensa que o poeta não pode deixar de se assenhorear das técnicas do verso, embora a técnica não seja tudo. Que ao escritor compete extrair do potencial de sua língua toda a cintilação que possa, dignificando-a sempre. Que escrever é atividade intelectual, sim, mas não se esgota no âmbito do intelecto; que o poeta há de comover-se e comover, sim, mas não se há de entregar, ingenuamente, à emoção desassistida da inteligência, porque a emoção, por si só, não é ainda arte, não é ainda poesia. Que a esse amálgama de pensamento, emoção, sentimento que é o poema não se deve tolher o voltar-se para a sorte do homem no espaço e no tempo, seja do ponto de vista filosófico, seja do social; pois à poesia, arte da palavra, interessa necessariamente tudo o que de humano se possa representar nela. • Obra – Poesia: "Altiplano e Outros Poemas", "Marvário", "Incomunicação", "Exercícios de Homem", "Cronoscópio", "O Cordeiro e a Nuvem" e "O Pássaro no Aquário" (entre 1971 e 2000); "Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos", "Pulso" e "Quarteto Arcaico", 2000; "Antologia Pessoal", Thesaurus, Brasília, 2001; "50 Poemas Escolhidos pelo Autor", Galo Branco, Rio de Janeiro, 2003; "Soneto Antigo", Brasília, 2009; "Elegia de Varna", trad. Rumen Stoyanov, Sófia, 2009; "Signo: Antologia Metapoética", Thesaurus, 2010; "De Uma Janela em Minas Gerais – 200 Sonetos", Guararapes–EGM, 2011; "De Viva Voz", Thesaurus, 2012; "Tiempo del Hombre", Lima, 2015. – Conto: "Pulso Instantâneo", Thesaurus, 2008. – Ensaio (Thesaurus): "Erotismo e Poesia", 1994; "A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo", 2002; "Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília", 2003; "Traduzir Poesia", 2004; "Testemunho & Participação", 2005; "Criadores de Mantras", 2007; "Proclamações", 2013.
Pousa na chaminé um passarinho.
Fico a admirá-lo. De repente o invejo.
Parece que ele sabe ouvir o céu.
Descortina paisagens que não vejo.
Pode voar, não posso.
Não fala a minha língua,
fala a língua dos anjos.
E canta, canta, canta!
Que diz a noite profunda?
Diz "não" às almas convulsas,
que não entendem de paz.
Que diz a noite profunda?
"Talvez" – ao triste filósofo
sumido em dúvidas.
Que diz a noite profunda?
Diz "vem" ao poeta envolto
em chamamentos de amor.
Que diz a noite profunda?
Diz "dorme" ao órfão cansado
de andar em sonhos no mundo.
Que diz a noite profunda?
O todo, o nada.
Senhor
a noite se abre
e eu leio o teu poema
Meus olhos nas estrelas
soletram teu amor