Nasci em Recife, Pernambuco, aos 17 de julho de 1962. Lá fui criada com meu avô materno até meus 12 anos. Após sua morte, mudamos (minha mãe, meus irmãos e eu) para o Rio de Janeiro, de onde, em 2005, mudei novamente: desta vez para Belo Horizonte. Desde então, vivo aqui com meu marido e minhas gêmeas, Clara e Juliana. Comecei a gostar de ler poesia ainda muito pequena. Cecília Meireles sempre foi a minha preferida, seguida de Carlos Drummond de Andrade e os sonetos de Vinícius de Morais. Por conta do meu gosto pela leitura decidi fazer um curso de Letras, tendo sido graduada pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro. Já em Belo Horizonte, fiz especialização em Língua Portuguesa com ênfase em Produção Textual, na Uni-BH. Não tive oportunidade de exercer a profissão para além dos estágios e aulas particulares de Português e de Inglês. Hoje, por opção, sou essencialmente mãe e “dona-de-casa” com o firme propósito de aprender a poetar. Participa da Saciedade dos Poetas Vivos Vol. X.

Blog:
http://veronicabenesi.blogspot.com/
Página individual em Blocos Online: em poesia

NATAL

Mais um 25 de dezembro,
mais um Natal.
Mais um ano, Cristo,
que nós, teus irmãos,
comemoramos teu nascimento
de modo quase obsceno!

Porque é Natal,
em teu nome
há uma corrida louca
ao centro comercial
em busca de presentes
que trocamos com os amigos,
com os parentes.
Sendo que muita gente
o significado desse ato
desconhece.

Porque é Natal,
há também os comes e bebes,
mas nada de simples croquetes,
frango assado ou espaguete.
Pelo menos, o peru e o bacalhau
são esperados...

Mas é Natal
e nessa epifania,
católicos ou ateus,
poucos atinam
que é teu o dia.
E então é Natal.
Mais um ano, Jesus,
que nós, teus irmãos,
ao te ver na cruz,
dizemos com muito orgulho,
e pouca reflexão...
- Nasceu para salvar o mundo,
esse menino!
Mas nesse mundo sem razão,
mesmo para o Divino
é tarefa assaz difícil
comungar guerra, paz e pão.

Há um Cristo, Jesus,
em cada um de teus irmãos
que sofrem as mesmas injustiças,
maus-tratos, ciladas,
e tantos e variados enganos,
sem teto, sem nada.
Sem alimento para o corpo
ou para a alma
cada um carrega sua pesada cruz.

Mas é Natal, afinal!
Tentamos todos seguir,
sem muita convicção, devemos admitir,
Tua doutrina de ética e de redenção.

Teremos nós, teus irmãos, alguma salvação?


MARIA (*)

E agora, Maria?
Você que não é virgem
mas é uma santa,
você que hoje em dia
faz seu próprio destino,
entre atinos e desatinos,
entre sã e insana,
é você quem procria.

Você que não dá conta
de ser apenas uma,
que se desdobra
em suas várias Marias,
você que é mulher,
é mãe e é filha,
que é amiga,
que é companheira.

Você que é vadia,
que é submissa.
Você que é guerreira
da noite e do dia.
E agora, Maria?

Você que faz suas preces,
o coração em agonia,
roga à Nossa Senhora
que volte sã e salva
a sua cria,
da batalha do dia-a-dia,
da labuta no asfalto,
onde vendem suas balas,
pedem algum trocado.

E a escola, Maria?
Você que se arma de coragem
no prazer ou na dor,
que vive na eterna batalha
de provar o seu valor.

Você que dá à luz
neste mundo de trevas,
que é dona do seu corpo
mas é jogada às pedras
ao mínimo gozo.
E agora, Maria?

Você que é da vida,
você que é dádiva,
você que é dama,
você que é fálica,
você que é do povo,
você que é do mundo,
que é de programa,
que não faz drama,
você que é nada, Maria.

Você que perpetua a espécie,
mas tem seus direitos restringidos.
Você que tem sede de justiça,
enfrenta quem te discrimina.
Você que não se rende
às diferenças dos gêneros.

Você que é a própria Vênus,
é beleza, amor, aconchego,
supera a miséria do mundo,
dá o peito,
alivia a fome.
Você que tem nome.

Você que é Maria.

Veronica Benesi

(*) Inspirado no poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade

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