À primeira vista os poemas nos remetem às telas de Salvador Dali. A segunda leitura nos soca como se o leitor estivesse participando de uma luta de boxeadores, e fosse nocauteado. Os poemas produzem efeitos diversos, mas em muitos momentos apresentam confluências avolumando a voz da escritora, como se expusessem as nossas feridas em carne viva, e osso quebrado, sem sutura. Por fim, um desassossego necessário diante da complexidade da realidade humana atual.
Benedito Cesar Silva
fevereiro 2009
Vesti minha roupa de Helena de Tróia e calcei minhas sandálias para ler "Noites Gregas", de Eloah Margoni. De repente, estava em um anfiteatro ouvindo Eloah. Eu, sozinha na arquibancada. Nós, absolutamente ligadas. Ótima poesia, o clássico com um olhar pós-moderno: colunas gregas sob a mira de uma lente digital. Visualmente, também, o livro é lindo. Merece menção o trabalho sempre impecável de Leila Míccolis, de Blocos. Parabéns!
Maria Helena Latini
maio 2009
A longa noite grega de Eloah Margoni nos envolve como a boa música clássica. Esta temos de ouvir, reouvir e nela inserir-nos para melhor reflexão e arrebatamento; aquela, ler, reler e estudar e fundir-nos a ela para percebê-la como se deve. Dizer direto Eloah não precisa, pois precisa é a melodia por ela entoada. Então o longo torna-se amplo. E dessa magnitude, cheios de ímpeto, notamos nossa sensibilidade latente aprender mais, passando a assumir o sublime aristotélico. Depois notamos ser a alvura contemplativa a que se chega ao girar de todas as cores semelhante ao hermetismo da poeta, em que, aplicada a ele a força da máquina coletiva de Jung, acaba por ser nosso próprio íntimo.
Como a diligência gera paz, o intricado transforma-se em doce fino, passa a ser privilégio de iniciados, e intuímos o que acontece na noite grega sobre a colina de rocha. Lá do alto, Partenon, construção das mais belas desde o mundo antigo, diz muito em seu silêncio. Mas "A noite grega" pôs-me dentro do templo, e deu vontade de expressar em gestos esta música composta de notas silentes. Talvez fosse o ritmo de Atena, minha interiorização de seu brado guerreiro. Nesse tipo de segredo e paradoxo a palavra de Margoni não é palavra comum, é architektonikós, e em seguida mais que matéria: psyqué elevada, perfazendo-se, de questionamento em questionamento, em ataraxia, até ser edificação para sempre. Pura compreensão da arte greco-humana, porque, como defendem muitos, “todos nós somos gregos”. Na entrega, mesmo diante do verbo contemporâneo, "avançamos ao passado", e entendemos tudo.
Isto acontece porque, do clima português, similar ao heleno, a poeta nos instiga a recuperar o que perdemos, como se quer nessas duas terras rememorar a antiga glória, tal qual cantam Kaváfis e o notável Pessoa. Mas tempo não existe no êxtase e a nostalgia se recicla. À noite – é lá que se filosofa melhor – a noite de Eloah me fez progredir; depois o Sol quis dizer-me algum folguedo. Mas naquele breu eu via tanta luz que, talvez inebriado por alguma “sutil baforada psicotrópica” – sendo e não sendo entre o pulsar de “todas as constelações possíveis”, bilhões de bilhões – e isso é só a minudência sobre a qual o homem é capaz de conjeturar –, via tanta luz que afastei qualquer novo ofuscamento ilusório que me pudesse estorvar a viagem interna.
De tal profundez não se sai senão para novo início e, como o fim também se reconstrói na linguagem da arte, nós, ao tomar no peito o tiro exclamado do tempo, “de MANEIRA ALGUMA” morremos, e, sim, ao ludibriar nossa própria efemeridade, ressurretos para a Festa, somos mito, e a agonia faz sua parte não como alegoria, mas como verdade escondida e expiação, e “chora-se quem sabe a inocência perdida” no futuro. Desgostos, júbilos vãos, coisas da vida.
Diante dessa ambiência, o verso de Eloah nos reveste de certa divindade cultivadora, quer estando com Perséfone no inverno ou na primavera, sendo obscuridade ou iluminação, galhos secos ou florescência. Sendo assim, no decorrer dos relógios e dos poemas seguintes, ao encarar o espelho eterno – integrais que somos –, podemos enxergar todos os nossos seres, compostos de sensualidade, vícios de morte, desistência, verdades, meias-verdades, resquícios de sorte, existência enfim – tudo o que povoa nosso filosofar inexaurível e que compõe o todo da obra.
Não dá para dizer mais, é ler, aprender, "ler-se, aprender-se". E sentir.
Fabbio Cortez
dezembro 2009