SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 3

GILBERTO MENDONÇA TELES - Bela Vista de Goiás/GO, 1931, radicado no Rio de Janeiro. Professor Doutor de Mestrado e Doutrado na PUC e na UFRJ, poeta, crítico, bahcarel em Direito. Tem diploma de especialização em Língua Portuguesa pela Universidade de Coimbra. Trabalhou como professor na França e esteve nos Estados Unidos como Tinker Visiting Professor da University of Chicago. Tem mais de quarenta obras publicadas, entre elas: Raiz da fala (1972), Arte de Amar (1977), Saciologia goiana (1982), Plural de Nuvens (1984), Hora Aberta (1986, volume de poemas reunidos). Pela Blocos, participou da Saciedade dos Poetas Vivos, vol. V (1993 - poemas visuais). Em crítica, destaca: Vanguarda européia e modernismo brasileiro (1972), Retórica do Silêncio (1979) e Estudos de poesia brasileira (1985). Pela Blocos, participou da Saciedade dos Poetas Vivos, vol. V (1993 - poemas visuais). Em 1989, a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o Prêmio Machado de Assis pelo Conjunto de Obras. Em 2002, ganhou o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores, sendo eleito o Intelectual do Ano.

Contatos: gilmete@globo.com
Página individual de poesia em Blocos Online
Página individual de prosa em Blocos Online


           Miscelânea (fragmentos)

Transparência

Nupcial

     

           7 resmungos (fragmentos)

Erótica II

O animal

 

7 RESMUNGOS
(fragmentos)

                                  Para Vania Chaves


                Ó Noite, fidelíssima confidente dos segredos, e vós que, com a Lua, sucedeis ao clarão do dia, ó astros, e que tu, Hécate de três cabeças, que conheces os meus intuitos e que trazes tua ajuda aos encantamentos e às artes dos mágicos, e tu, Terra, que forneces aos mágicos ervas poderosas; brisas e ventos, montes, rios e lagos, todos os deuses dos bosques, todos os deuses da noite, favorecei-me!
                                                                           (Ovídio, As Metamorfoses: VII, 2)

 

                  1.

Ervas, filtros, pedras, fontes
fogo do céu, brasa do sol, ulha do mar!

Assim como o coração da Natureza
se abre gloriosamente para a Dádiva,
fazei que o coração de Fulana
se abacadabre para o meu amor.

(Pensar três vezes no nome dela
e em seguida pronunciá-lo para dnetro
como quem soluça ou engole seco
um caroço de ameixa.)
       


                         3.

Furnas, cavernas, habitações da terra,
granja do Torto, tijupar, quilombo,
antro, cafua, esconderijo, loca,
toca de bicho,
                      água furtada,
lugares ermos e sem nome
e todos vós que sois a um só tempo
força do vento, encantações do mar,

obscurecei a razão de Fulana
e alumiai o espaço do seu desejo
para que ela se derrame toda
como um vaso de aromas nos meus pés.

(Treze vezes repetir o nome dela
e escrevê-lo depois de trás pra frente,
como quem planta bananeira na janela
ou então arranca um dente.) 


                         6.
Silfos e gnomos invisíveis do Ar,
salamandras dourados do Fogo,
centauros ambíguos da Terra
ondinhas verdes das Águas,

línguas de fogo, língua perdida,
língua de sogra nalgum surrão,
língua de trapo que veste a vida
das personagens do meu sertão:

pai-do-mato, caipora,
lobisome, assombração,
saci que pula por fora
e sai de dentro do chão,

juntai vosso poder e despertai
no corpo de Fulana algum hormônio
a fim de que ela possa, nalgum dia,
ser possuída por mim, como um demônio.

(Pegar seu nome e amarrá-lo bem,
fazer-lhe vênia murmurando vem,
comer três letras e dizer amém.) 
 

Gilberto Mendonça Teles
1 2   3 •  4  6

Gilberto Mendonça Teles

 
Voltar à capa da Saciedade dos Poetas Vivos