SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 4

LÊDO IVO - Jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta, nasceu em Maceió, AL, em 18 de fevereiro de 1924. Eleito em 13 de novembro de 1986 para a Cadeira nº 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Sua obra de poesia e de prosa foi amplamente reconhecida e premiada. Seu romance de estréia As alianças (1947) mereceu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Ao seu livro de crônicas A cidade e os dias (1957) foi atribuído o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Em 1973, foram conferidos a Finisterra (poesia) o Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil; o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. O seu romance Ninho de cobras foi distinguido com o Prêmio Nacional Walmap. Em 1974, Finisterra recebeu o Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Seu livro de memórias Confissões de um poeta (1979) mereceu o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em 1982, Lêdo Ivo foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. A seu livro de ensaios A ética da aventura foi conferido, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela obra poética. Eleito "Intelectual do Ano de 1990", recebeu o Troféu Juca Pato. Ao seu livro de poemas Curral de peixe (1995) o Clube de Poesia de São Paulo atribuiu o Prêmio Cassiano Ricardo. Lêdo Ivo é uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira, notadamente na poesia. É do Conselho Administrador do portal Blocos Online.

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           A água

A verdade da noite

Diante do espelho

     

            A cama e A cozinha

Recordação de infância

Nosso lixo

 

NOSSO LIXO

Não enterres o lixo
no lugar do homem.
Enterra-o, bem fundo,
no lugar do bicho.
Mas aprende antes
o que é lixo:
garrafa de plástico,
resto de cosmético
e cílio postiço,
bola de bilhar,
escova sem pêlos,
calota amassada,
papel celofane
que envolve as orquídeas,
cartaz lacerado
que sobra das mídias,
fuligem dos sonhos
medonhos que temos
sozinhos de noite,
gordura de pizza.
monumento sujo
de nossa grandeza,
pirâmide erguida
pelo faraó
que dormita em nós,
o lixo é sagrado,
dádiva do deus
que engendra a fumaça
e a lava que mata
os peixes e os pássaros.
Teu irmão trapeiro
que vai nos monturos
e, leal, disputa
com os urubus
o mais fino achado
ensina a verdade
que ilumina o mundo:
o que é do homem
o urubu não come.
Aprende com ele
a defender o teu:
botão de blue jeans,
calor de fogueira,
vôo de gavião,
letra de hipoteca,
riso de rameira,
púbis de boneca.
Aprende a catar
o entulho fulgente
que o mundo vomita
e depois separa
o joio do trigo
e o enjôo da tribo.
Deixa no monturo
o que nada vale.
Só convém guardar
o que consideres
útil, proveitoso:
resto de comida
da festa indigesta,
papel higiênico,
duro pão dormido.

Lêdo Ivo
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Leila Míccolis

 
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