SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 5

CHRISTINA RAMALHO - Carioca, doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ, reside em Natal (RN) desde 2006, quando passou a integrar o quadro de professores da UFRN. Lá atua nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras e coordena a Base de Pesquisa: BEM - Base de Estudos em Mitopoética. Membro de GT Mulher & Literatura da ANPOLL, desenvolve pesquisas nas áreas de Crítica Feminista, Semiologia e Mitologia. Publicou os livros de crítica literária: Um espelho para Narcisa – reflexos de uma voz romântica (Ed. Elo, RJ, 1999), Fênix e Harpia: Faces míticas da poesia e da poética de Ivan Junqueira (Academia Brasileira de Letras, RJ, 2005) e Elas escrevem o épico (Ed. Mulheres, Florianópolis; EDUNISC, Santa Cruz do Sul, 2005), os dois últimos premiados pela UBE/RJ. No mês de setembro lançará no Rio o primeiro volume da História da epopéia brasileira (Ed. Garamond, RJ, 2007), escrito em parceira com Anazildo Vasconcelos da Silva, e, em outubro, o livro Dois ensaios sobre poesia (EDUNISC, Santa Cruz do Sul, 2007). A dedicação à literatura vem da infância e resultou nos livros de poesia Musa Carmesim (Ed. Vertente, Campos do Jordão, 1999) e Laço e nó (Ed. Elo, RJ, 2000); no de contos Dança no espelho (Ed. OPVS, RJ, 2005); e nos de crônicas, num total de seis livros publicados desde 2000. O último, Pão nosso (UAPÊ, RJ, 2007), será lançado na Bienal do RJ. No prelo, Lição de voar (poemas). Também se dedica à pintura e à fotografia, realizando diversas exposições e publicando fotos em capas de livros, de que é exemplo Cantos e cantares, de Helena Parente Cunha (Ed. Tempo Brasileiro, RJ, 2005).

Contatos: chrisramalho@interjato.com.br
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           Prisioneiras da noite

Satélite revisitado (o avião e a lua)

Palco

     

           Oboé

Dama da noite

A noite em ti

 

Prisioneiras da noite

Na torre incrustada,
em feudal tormento,
a princesa rouca
de chamar o vento.

Nas cinzentas grades
da cela medonha,
a mulher guardada
em seu pensamento.

Na capela imersa,
lá no areal,
serpente princesa
presa pelo amor.

Escamas de ouro,
esperando acesas,
a carne imolada
de um redentor.

Ossos cimentados,
Mãe do Ouro chora,
vigiando a noite,
pela vida afora.

Alma esplendorosa,
corpo feito em terra,
vive seduzindo
em sua quimera.

Alamoa linda,
de carnes sedenta,
nua em sua luz
seduz, chama, tenta.

Esqueleto infame,
insaciável sina,
no prazer, devora,
eterna libitina,

Nas ruas de Copa,
quase bem menina,
a mulher barganha
seios e vagina.

Presa em braços rasos
sem abraços doces,
riscam sua pele
espadas e foices.

Nos feudos de outrora
ou no Ceará,
no Pico em Noronha,
em qualquer lugar,

prisioneiras tristes,
de algemas tantas,
mulheres resistem
em voz sem garganta.

Sempre denegridas,
sempre enclausuradas,
mulheres sucumbem
em cios de mágoas.

Asas libertárias,
por que nunca vêm?
Por que não socorrem
essas vozes várias?

Asas preciosas,
garras para o além,
por que alhures correm
alheias às párias?

Vejam as mulheres,
presas, mutiladas,
ensaiando vôos
pelas madrugadas.

Vejam as mulheres,
habitando casas,
como fossem portas,
móveis ou escadas.

Vejam as mulheres,
tão ensimesmadas,
sem saber do espelho,
sem saber de nada.

Asas poderosas,
chave das reféns,
pousem nessas celas,
e partam com elas.

Noite, sê clemente,
guarda os teus filhos!
Deixa que as mulheres
rasguem seus destinos.

Christina Ramalho

 
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