Prisioneiras da noite
Na torre incrustada,
em feudal tormento,
a princesa rouca
de chamar o vento.
Nas cinzentas grades
da cela medonha,
a mulher guardada
em seu pensamento.
Na capela imersa,
lá no areal,
serpente princesa
presa pelo amor.
Escamas de ouro,
esperando acesas,
a carne imolada
de um redentor.
Ossos cimentados,
Mãe do Ouro chora,
vigiando a noite,
pela vida afora.
Alma esplendorosa,
corpo feito em terra,
vive seduzindo
em sua quimera.
Alamoa linda,
de carnes sedenta,
nua em sua luz
seduz, chama, tenta.
Esqueleto infame,
insaciável sina,
no prazer, devora,
eterna libitina,
Nas ruas de Copa,
quase bem menina,
a mulher barganha
seios e vagina.
Presa em braços rasos
sem abraços doces,
riscam sua pele
espadas e foices.
Nos feudos de outrora
ou no Ceará,
no Pico em Noronha,
em qualquer lugar,
prisioneiras tristes,
de algemas tantas,
mulheres resistem
em voz sem garganta.
Sempre denegridas,
sempre enclausuradas,
mulheres sucumbem
em cios de mágoas.
Asas libertárias,
por que nunca vêm?
Por que não socorrem
essas vozes várias?
Asas preciosas,
garras para o além,
por que alhures correm
alheias às párias?
Vejam as mulheres,
presas, mutiladas,
ensaiando vôos
pelas madrugadas.
Vejam as mulheres,
habitando casas,
como fossem portas,
móveis ou escadas.
Vejam as mulheres,
tão ensimesmadas,
sem saber do espelho,
sem saber de nada.
Asas poderosas,
chave das reféns,
pousem nessas celas,
e partam com elas.
Noite, sê clemente,
guarda os teus filhos!
Deixa que as mulheres
rasguem seus destinos.