SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 5

NEUZA LADEIRA - Poeta e artista plástica, Neuza Ladeira nasceu em Belo Horizonte em 09 de março de 1950. Depois de viver a infância na zona da mata, interior de Minas Gerais, revisita Belo Horizonte, onde passa a adolescência. Começa a militar nos movimentos politicos e entra para a clandestinidade, andando pelo mundo de São Paulo e do Rio de Janeiro, pasárgada de origem de sua tortura como prisioneira politica na ditadura militar. Sua experiência de vida acaba por revelar uma pessoa em busca de uma liberdade somente encontrada na poesia e na pintura. Artista em Belo Horizonte ocupa seu tempo no espaço das palavras e das cores, inspirada entre as curvas e as montanhas. Publica "Opúsculos" (Anome Livros, BH/MG, 2003), 212 páginas grafadas de imagens e letras. Fez capas para muitos livros de poesia e de ficção, além de exposições nos mais diferentes lugares: Assembléia Legislativa de Minas Gerais, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, entre outros.

Contatos: neuzaladeira@bol.com.br
Página individual de poesia em Blocos Online
Página individual de prosa em Blocos Online


           Pincelando um canto de véspera

Completas

Cem anos! Peixe nadando um bailado

     

           Nau dos loucos

Cintilam pensamentos

(Homens ocos de Eliot)

 

Pincelando um Canto de Véspera

Patética a louca insistindo em bailar como as bailarinas
Dançando a mesma dança,naquela pista desigual
Onde a loucura é real

Mesmo assim espreguicei na brisa as fantasias poéticas
Como o trapezista preparando-se para o show,
  Olhando o adestra dor lá na jaula, com o animal ao peito.

Seis horas da tarde!
Coitado, acorrentado ao sinistro
  Que não se encaixa mais.

Mamãe Oxum na cachoeira, benze narciso transparente
Aquele que atravessa a saudade e reassenta um hino
Em tempo bordando um tecido mimoso.
Colorindo o inconsolável em um carretel de sonhos

Dormindo ali, aqui , lá, acolá a feia figura suja e desleixada,
Que apazigua a fome da criança, mas não pode niná-la.

No ninho piado, muitas rendas tecidas
Muita fragrância guardada...
  Perfumes como sempre passageiros.
Qual eu, qual você?

O menino transparente, naquele campo verde de capim
Sonhando na crescente lua
Beber vinho em companhia da sombra.

Pequena flor por caminhos de beiras e argilas
Vê Julieta nua , esquecida de Maria
Levitando ao som dos sinetes
  Costurando um sentido aos sonhos,
Completa a entrada da noite.

Maria Helena Bandeira

Neuza Ladeira

 
Voltar à capa da Saciedade dos Poetas Vivos