PREFÁCIO
A Saciedade dos Poetas Vivos Digital nº 7 aborda "Intimidades": amorosas, amigas, cúmplices, solitárias, reflexivas, amorosas. Como escreveu Martha Medeiros, uma de nossas convidadas da Antologia passada, "Intimidade é você não precisar verbalizar tudo o que pensa, é aceitar a solidão do outro, é estarem familiarizados com o silêncio de cada um. Intimidade é não precisar estar linda em todos os momentos, não precisar ser coerente em todas as atitudes, é rirem juntos de uma história que só eles conhecem o final". Momentos íntimos com gente, com livros
– as obras de cabeceira
–, com a natureza ou com animais de estimação. Intimidade com a palavra escrita, com o silêncio do papel em branco, com a fala do gesto.
O e-laborar e a construção da intimidade estão presentes nos dezessete poetas deste volume, de forma mais sutil e indireta, ou de forma mais visivel e declarada: Carlos Seabra, com seu olhar minimal e abissal do mundo; Débora Bueno, com sua textura delicada; Jania Souza, com seu vôo existencial; Janice Mansur, com seu lirismo inquieto; João Nilo com suas singulares percepções; Leninha com sua desafetação cativante; Mônica Banderas, com sua poesia em forma de blog-diário; Sandra Fonseca, cuja poesia nos lembra blues-baladas; Sandra Souza, com um estilo incisivo e claro; Silvio Olivio, com seu texto de efeitos impactantes; Soninha Porto, com seu lirismo agridoce; Thaty Marcondes, com sua intensa passionalidade; Vera Casa Nova, com seus afetivos abraços
– dados e não dados; Xenïa Antunes, com sua lírica desconcertante e rebelde.
Na presente edição trazemos três convidados muito queridos e especiais: Alice Ruiz, uma das maiores haicaistas brasileiras, exímia em captar a alma das coisas e dos momentos fugidios; Ulisses Tavares, humorado, ferino e extremamente crítico, como poucos poetas o são atualmente; e Mauricio Gonçalves – bela surpresa para quem só o conhece até agora como ator –, cuja poesia, repleta de referenciais e teatralidade, oferece um verdadeiro banquete de sofisticados sabores.
A intimidade, para além da busca pela aproximação, é também internidade, e revela-se no trato íntimo do ser com ele próprio, em toda a gama de possibilidades reflexivas que afloram e desabrocham em seu interior. Neste sentido, podemos entender tal internalização como substância-essência de um entre, de uma relação envolvendo alguém e o outro ou alguém e a coisa observada, e até, em horizonte muito mais amplo, um entrelugar tenso por estar compreendido entre a finitude da vida e a infinitude da morte, como tão bem divisa Joaquim Cardozo em seu poema "O Um e sua intimidade", do qual reproduzimos fragmentos e com o qual finalizamos esta nossa introdução:
No Um está o ser isolado e está o Universo.
Não é naquele ser, porém, nem neste Todo
Onde reside a sua intimidade.
(...)
A sua intimidade é a infinita singularidade
Do só, a infinitude da concentração do ser
(...)
A intimidade do Um está no valor da função
Que na sua origem, num breve, infinitamente instante,
liturgicamente
Oscila eternamente entre + 1 e – 1.
Entre os dois, no entanto, não há tempo zero –
A intimidade do Um está no ponto antesdepois
Do teu prazer, Mulher!
Está no ponto AntesDepois da Morte.
Urhacy Faustino e Leila Míccolis
EDITORES
Lançamento oficial: 17 de setembro de 2008
Créditos:
Capa: Vande Rotta Gomide
Título: Eduardo Feijó Netto Machado
Seleção de textos: Leila Míccolis
Webmaster: Urhacy Faustino