SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 7

Xenïa Antunes - Não sei escrever biografias nem organizar currículos, é muito chato. Continuo tendo nascido em 19 de outubro no século passado, no Rio de Janeiro, em Laranjeiras, e morando em Brasília desde 1960. Aliás, não há nada de novo no front na capital federal, ninguém foi preso. E continuo vivendo do meu jeito meio bicho-domato, curtindo a natureza e evitando o caos urbano. E, claro, por não saber fazer outra coisa, ainda pago literalmente a pena de escrever poesias e crônicas e fazer minhas artes em desenho, pintura, fotografia e multimídia. Também continuo apaixonada por música, pelos meus amigos, principalmente pela minha companheira de 7 anos, uma cocker spaniel “caramelada” chamada Dandara, e amando e admirando cada vez mais minha filha caçula de 15 anos, Carolina, que é uma das pessoas mais decentes e dignas que já conheci. E a quem dedico meus poemas nesta antologia.
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Tempo perdido

 

TEMPO PERDIDO

                                          Esse é tempo de partido,
                                       tempo de homens partidos.
                                                              (Drummond)

Costumo eu,
mulher moderníssima
que faz o que lhe dá na telha,
seguir velhos conselhos
de algumas outras mulheres
antigas e mais sábias
em certas questões de foro íntimo
abrangendo tanto as coisas de consciência
como as de pele e sentimento:
depois dos honrados atos sexuais
que julgo ou sinto como se fossem de amor
resguardo-me como uma santa parida.
Pensamentos, ventre e entranhas
eu os embalo e preservo
de outras gentes.
Faço deste tempo
um tempo de pertencer
ao amado
e de continuar a sentir seu cheiro
seu gosto e seu peso.
É um tempo guardado
em que me purifico
vendo nascer dos meus poros
flores de sêmen
e alguma poesia.
É um tempo em que me fecho
para as odisséias pagãs
e bebo somente
o que for verdadeira água.
É um tempo em que me calo e ensurdeço
para as platéias mundanas.
É um tempo em que atraso ou adianto relógios
para encurtar os caminhos.
É um tempo em que refaço laços,
rastros, pegadas
e aguardo uma confirmação de afeto
por verso ou mimos de flor.

Mas este é um tempo perdido
de homens partidos.

Xenïa Antunes

 

 
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