SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 13

Gerson Ney França

GERSON NEY FRANÇA - Paulistano de 1960, vive em Taubaté, interior de São Paulo. É Servidor Público e pai de duas meninas. Publicou três livros de poesia: Tema & Meta (edição do autor); Canção de Não Ser Nada (Funarte/SP) e Canção de não ser nada e outras canções (Editora Scortecci). Participou de várias antologias. Algumas premiações em concursos literários. Escreve letras de música. Seus versos servem ainda de “ilustração” à pintura da artista plástica Ana Flávia Armani, com quem é casado (é dela o quadro no fundo da foto ao lado). Participa também da Saciedade dos Poetas Vivos Digital em seus volumes 4, 11 e 12.
Contatos: gnfranca@ube.org.br

Página individual de poesia em Blocos Online


           Hermenêutica

Espécie

Seres

     

           Urubu urbano

(Para Dorcelina Folador,)

A mão do homem

 

URUBU URBANO

Um urubu
velho conhecido na floresta
dos sacis e dos duendes
das fadas dos diabos
dos gnomos das gnoses
não rapina, flana por refletir
a realicidade

Vê que na esquina da extrema-unção
entre paixão e  pus
tremeluz a meretriz a metros
da porta do prédio da bolsa de valores
que desceu em alta
frente à família dos sem-
que se abaixa com cem dedos a pedir

Na cidade – se espanta o urubu –
tudo é muito concreto
e muita fome é
sentida por muitos
no formigueiro dos homens
que de concreto
nem com as formigas aprenderam
seu concerto

Estupra-se estripa-se sem mais estupor
e sangue combustível nas veias da cidade
cinética energia movimenta
assassina, sem ética

Subversivo o amor
faz-se fácil mira para o crime
e crema

Pode um sonho ver a lua antes de se poluir ?
Ou a esperança ser mais rápida que a fumaça
e ainda assim pela praça se demorar
sem a pressa de um semáforo aberto ?

Na cidade – desentende o urubu –
homens muitos se reúnem
para resolver
ao contrário dos bichos que se amontoam
para devorar
Quando ficam sós é que os homens
(e são tantos homens sós, sós por tanto tempo, se acotovelando sós)
viram feras e planejam sua voragem

Em adeus e adejo quer ajuda
o urubu urbano...
Acostumado à carniça
lhe embrulha o estômago
a decomposição do espírito

Gerson Ney França
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Gerson Ney França

 
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