O inverno, vês? Anda a esfumar-se a névoa.
Há frio na minhalma. Há frio e névoa.
Morta — envolvida em pétalas de lírios -
Tiveste a vida angélica dos lírios.
Apagou-se a alegria dos meus olhos:
Pois nunca mais me sorrirão teus olhos.
Gelada para sempre a tua boca:
Fanou-se a flor do beijo em minha boca.
Porque és enlevo e amor, porque és lembrança,
Hás-de sempre viver-me na lembrança.
Quando o pallium da noite ensombra o lago,
Venho sonhar à sombra do meu lago:
Emerges da água límpida do sonho,
Exilada do céu para o meu sonho.
E à luz da lua, lirial e branca,
Tomas de um lírio a estranha forma branca.
Mas quando vou colher-te, em meio à sombra,
Não és mais nada, ó lírio, do que sombra.
Dá que eu te siga (e breve!) flor-de-névoa.
Há frio na minhalma. Há frio e névoa.