A MOENDA
Na remansosa paz da rústica fazenda,
À luz quente do sol e à fria luz do luar,
Vive, como a expiar uma culpa tremenda,
O engenho de madeira a gemer e a chorar,
Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
E ringindo e rangendo, a cana a triturar
Parece que tem a alma, adivinha e desvenda
A ruína, a dor, o mal que vai, talvez, causar...
Movida pelos bois tardos e sonolentos
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos,
Que as desgraças por vir, sabe-as todas de cor.
Ai! dos teus tristes ais! ai! moenda arrependida!
— Álcool! para esquecer os tormentos da vida
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!
Do livro: Zodíaco, Oficina de Tipografia Apolo, 1917,
RJ
Enviado por: Sérgio Gerônimo Delgado
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