Quando contemplava aqueles olhos azuis,
Profundos, expressivos às vezes assustadores,
Não compreendia nunca na sua imensidão,
O valor inexplicável dessa profundidade.
Olhos azuis que diziam muito de si mesmo,
Que traduziam carinho e severidade,
No mesmo olhar longo e transbordante
De brandura involuntária revelada a cada momento
Olhos azuis que por vezes se me afiguravam cristalinos,
Manifestando rancor ou extravasando numa mesma expressão,
Meiguice, amor e doação nunca vistas.
Olhos azuis que eu amei e nos quais senti segurança,
Que me bastavam na hora do sofrimento irremediável,
Que se fazia presente, quando todos me faltavam descomprometidos,
E que lá estavam quando eu mais sentia dor ou solidão.
Olhos azuis que meu pai ostentava indiferente à sua beleza,
Que escondia em óculos de armações elegantes,
Olhos azuis que eu soube fitar com ternura ou mágoa,
Mas que hoje os vejo até no escuro brilhando azuis,
Inesquecíveis e sinto dentro d’alma,
O incrível magnetismo radiante
E quase onipotente.