Quando a cidade morreu
levaram o homem esquecidio,
que as máquinas apanharam
de onde saiu a Praça.
Na janela, entrando um guincho,
foi amassar o sorriso
a moça, que, sendo virgem,
em casa ficou, fechada.
Nus pêlos, da cor de fogo,
subindo com as engrenagens,
seguiu, em meio ao barulho,
como um ganido abafado.
A mão, aberta, sem dono,
tomou a pá, na calçada.
Partiu-se o diamante,
do anel que a mão levava.
Um olho saltou da órbita,
caiu no chão, ficou parado.
Coisas miúdas escaparam,
por uma fresta da máquina.
Do livro: "Proclama aos incautos", Ed. do Escritor, 1979, SP