Ontem conheci a minha esposa,
Uma garota com tantas outras...
Ela gosta de mentir e de chorar
Só porque as noites andam tão quentes e secas,
Que as próprias sombras da cidade reluzem
Viscosas
Feito quem corre os dedos, a sentir
A penetrar a espinha dorsal de uma barata –
Tal qual um oceano em um copo d´ água
Que, orfão do sol, sufoca-se em sua própria cova...
Subitamente me sinto tão bem
Que o céu, ao longe, passa-me a impressão de ser rubro,
Fresco,
Repleto de idéias suicidas,
Para somente então deixar de existir:
Deveria ser assim por todo o Texas.
Ela gosta de rir dos mortos
Que tossem e por isso trepam,
Que trepam e por isso tosse...
Neste desolado e sereno latifúndio beatnik
Sobre o qual todas as noites adormecemos;
Sob o qual cantamos todas as noites
Salmos e Blues:
Há tanto para amaldiçoar quando ela está por perto...
Tanto.
Ah...
Se ao menos ela negra,
Ou se negra fosse a minha mãe,
Mesmo sangue e mesma carne de Baudelaire,
Amada e sifilítica...
A lancinante felicidade do ópio
( que deveria correr por entre os meus ossos )
Pudesse eu ver todos os vãos de sua alma,
Pudesse em vê-los como Warhol;
Uma Eva entre tantas outras,
Uma Eva que mente e que chora...
Talvez ela seja apenas uma garota de má-sorte,
Talvez se eu fosse menos egoísta e arrogante –
Mas ela não tinha o direito,
Exigir que eu diga que as noites andam tão quentes e secas,
Só porque as noites andam de fato tão quentes e secas
E que por isso eu a amo muito mais
Melhor seria se eu me emparedasse voluntariamente,
Dilapidando cada vez mais o meu gozo
Até que ele se torne o gozo de meu próprio pai,
Confortando-me em meu leito
Como se morta fosse a minha descendência...
Melhor seria eu proliferasse pelo incesto,
Tornando-me digno de escrever o meu próprio epitáfio
–
pois toda geração de poetas entediados deveria ter o
seu,
E nada posso eu, de modo algum, desperdiças este torpor
( ... )
É uma inquietação que eu sinto não sei aonde:
Meu corpo e minha alma já não são pagãos,
Tampouco acreditam nos mesmos Deuses.
E eu, envelhecendo, acredito e procuro:
A tristeza refletindo sobre si própria,
Uma definição de felicidade que não seja triste,
Talvez um incerto amor,
( Concreto amor que não se concretiza ),
Talvez uma inefável doença,
( Destas que não tem nem fim nem cura )
Talvez um desejo que não apodrece
( Quando apodrecem nunca é do modo que eu imaginava )
Sem pudor algum espelho-me na tragédia dos jovens,
Sem pudor algum rogo para que eles morram
Pois assim seria sensata esta compaixão que de repente vaza,
E que momento de felicidade é este
Aonde tudo o que eu tenho a perder
São as pessoas que tanto amo,
O que eu amo e nada mais
Nada
Nada a perder
( O que eu desejo para mim nem o meu pobre amor pode saber
O que eu desejo para mim nem o meu pobre público pode saber
)
( .. . )
Bem que eu queria que o meu podre público estivesse ao meu lado,
Só para eu ser displicente e perguntar se no céu há
mesmo um brilho incomum
(Talvez kafkiano )
Pois de fato creio que um dia acordarei em uma caixa lacrada...
Uma caixa que é lacrada, bem a vejo, não uma sepultura;
E lá permanecerei, com exatas lembranças de como é
uma réstia,
A espera da derradeira
E somente quando ela expirar me será permitido distinguir o
efêmero do eterno