IX - O LISBOA
Meu coração rompeu-se em minha mão
que talha, tira o lixo, fz beleza,
há de perpetuar esta aspereza,
liberdade qual bolha de sabão:
são tortas, carcomidas, porém são
dois pássaros libertos da incerteza;
dois arcanjos de glória e de grandeza,
Brasil amalgamado de paixão.
Se sou mulato, um dis serei branco;
se sou capenga, serei desenvolto;
se ninguém sou, um dia serei tudo —
quando empunho o cinzel jamais eu manco,
esculpindo, qual caracol revolto,
na pedra quieta meu delírio mudo.
Ildásio Tavares
Do livro: "IX sonetos da Inconfidência", Lemos Editorial, 1999, SP
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