O PARQUE
À noite ele vai ao parque
entre o mar e a cidade
e o precipício do céu
e o abismo do seu eu.
Com toda amabilidade
ele joga a rede e fere
as águas da noite suave
e colhe o que se oferece:
no sentido do relógio,
as luzes de Niterói,
a escuridão e a Urca
e sobre ela o Pão de Açúcar;
depois, pistas de automóveis
e em meio a certas folhagens
sabe-se lá o que fazem
uns atletas quase imóveis;
o Hotel Glória iluminado
atrás de um bosque no breu;
o monumento, um soldado,
e adiante o museu
e a marina; e depois,
vindo lá do aeroporto
um longínquo odor de esgoto
ofende as damas da noite;
e há vultos à beira-mar
e amantes à meia-luz
e à superfície do mar
um azul que tremeluz
e seu desejo encarnado
na mão de certo moreno
tão cálido e apaixonado
que é louco pelo sereno;
e finalmente o que há
é a via láctea a jorrar
no alto do firmamento
e a seus pés sem fundamento.
Antonio Cicero
Do livro: "Esses Poetas", Aeroplano, 1998, RJ
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