E a dor sentada à porta, à chuva, ao vento, espera;
Sabe que ela há-de entrar; sabe que há-de ter hora;
Deixem contente o lar a rir, que logo chora;
Só pela voz da flor gorjeia a primavera.
Antes deste universo arfar a dor não era:
Sair de si a dor, a dor não pode agora,
É dor, mau grado seu, como a aurora é da aurora,
Como a rosa é da veiga, e o fogo e da cratera.
Fatal, como é a sombra, ela se arrasta e inclina:
Preferira cantar, como um pássaro trina,
Ser a alegria em vez de ser a dor... mais nada.
Lágrima eterna presa a um soluço infinito
Sou eu, és tu, a terra, o mar o céu, num grito
De dor, que a própria dor solta aterrorizada...