A latinidade está enraizada nos corações em malmequeres
ávidos por
dignidade.
Somos filhas das lendas de iemanjás e erês
pererês
e dos encantos das nanãs de quadris largos
que preparam — pés na terra, mãos no barro
cheirosas pajelanças de suor camarão dendê
em rituais de seios ofegantes
como maracas enluaradas para salsas românticas
Mulheres
competentes
companheiras
mestiças de tantas raças
valentes
(que recusam os recursos dos sais para o viço, mortiço,
do oportunismo e da auto-piedade)
guerreiras
nos fogões à lenha herdados das sinhás
nos pregões das bolsas de valores éticos
ou nos bastidores de melhor sorte
— daqui ou mais ao Norte
todas cúmplices (sem alarde)
das palavras nuas pró dignidade
brancas, caboclas, pardas e negras
nas senzalas modernas
sem água
sem praças
sem jardins
sem rosas nos jarros
sem imagens de querubins dourados num horizonte azul-papel
— mas com anjos da guarda atentos e vigilantes, como o Céu
a latinidade é muito mais que o sangue quente
gotejando de testas e latas nas urbanas ladeiras da desesperança
(perdição das nossas crianças)
é berro
que derrete o ferro nos sorrisos sem dentes — grilhões da ingenuidade
é passo certo, esperto, consciente, requebrado
— por que não, se Graça de latinidade —?
rumo à conquista do Sol nosso, por herança.