Sou tão perigoso quanto um facínora.
Sou capaz, atentem muitíssimo bem,
De tirar a vida do jardim e da rosa,
Apenas para presentear a minha amada.
De transformar o céu diurno em noturno
Para que os olhos dela possam brilhar mais.
Sou tão perigoso quanto um facínora.
Sou capaz, não me descreiam, sou capaz
De interromper um leve passeio da lebre,
Hipnotizando-a, para que seus macios pelos,
Em noites de desassossego e solidão,
Sirvam de abrigo ao rosto de minha amada.
E se alguém duvidar, me provocando...,
Ah!, eu sou capaz de criar uma poesia triste,
Muito triste, de tristeza tristemente triste,
Bordá-la em tom roxo no céu preto agonia,
De uma cidade qualquer do global mundo
E assassinar todos os seus habitantes sentimentais
Com horríveis convulsões, inenarráveis prantos.
Não descreiam:
Sou tão perigoso quanto um facínora.
Desprezível somente o descaso.
Pratico atos de amor e de revolta
E quando me indagam:
— O que é ser poeta?
Não respondo,
De imediato emudeço;
Não há como desvendar
Esta queimação no peito,
Este olhar turvado,
Esta mão incansável,
Este pensamento fixo na amada,
Esta avassaladora necessidade de escrever, escrever...
Este compromisso obrigatório que ninguém obriga
Esta fraqueza com força retumbante de sentir, sentir...