E não entendera, ainda sonolenta,
aqueles homens jovens de vestes pintadas como as matas,
cuias verdes cíntadas ao queixo, que
arregaçavam fora as poucas coisas conseguídas
à sobrevivência modesta.
Já os pequenos olhos arregalados
não entendiam os longos canos de braços de madeira,
polidos tanto o cano quanto o braço,
no esfregar nas fardas dos dias e das noites
na busca de malditos seres.
E o cano que arregaçava fora
também cuspia coisas que o piscar dos olhos,
pelo estampido, afastava da percepção.
E só percebera que o cano de braços polidos,
que os homens jovens de vestes pintadas como as matas,
cuias cintadas ao queixo, carregavam,
cuspia a morte pelo cano polido,
quando amarrado o pai
e furado pelas cuspidelas
do cano de braços polidos,
e a mãe, agarrada aos pés do pai,
contorcer-se.
E vira também ainda seu corpo.
E as poucas roupas arderam
mas a dor ardera muito mais,
e mais quando da sensação de cozedura dos olhos,
que já não eram arregalados.
Depois só sentira do corpo
a pele curta e enrugada,
dedos que não estenderam mais as arapucas
no mato da cor das vestes.
Crescera pouco e encolhida
sem seios,
sem filhos.
0 gozo implodira só.
No resto fora só,
com o medo, a dúvida, a incerteza
da volta dos homens de vestes da cor das matas,
cuias cintadas ao queixo,
com os canos de braços longos e polidos
que cuspiam a morte.
Fora este o legado àquela
que a inocência
só perdera na morte.
Do livro: "O Sentido Comum das Coisas" , Editora Lutador,
1992, MG