Poesia é coisa
De mulheres.
Um serviço usual,
Reacender de fogos.
Nas esquinas da morte
Enterrei a gorda
Placenta enxundiosa
E caminhei serena
Sobre as brasas
Até o lado de lá
Onde o demônio habita.
Poesia é sempre assim,
Uma alquimia de fetos.
Um lento porejar
De venenos sob a pele.
Poesia é a arte
Da rapina. Não a caça, propriamente,
Mas sempre nas mãos
Um lampejo de sangue.
Em vão,
Procuro meu destino:
No pássaro esquartejado
A escritura das vísceras.
Poesia como antojos,
Como um ventre crescendo,
A pele esticada
De úteros estalando.
Poesia é esta paixão
Delicada e perversa,
Umidade perolada
A escorrer do meu corpo,
Empapando-me as roupas
Como uma água de febre.
Do livro: "Feminina", Fund. Casa de Jorge Amado/COPENE, 1996, BA