Para que tantas cores neste espaço?
Dormiu no atelier, rasgou a tela.
E num gesto de mágoa e de cansaço
sacudiu os pincéis pela janela.
Correndo do papel fez-se aquarela
na tinta azul-marinho: breve traço
entre as águas do mar, na caravela,
nágua forte e madura do sargaço.
Desbotou-se a pintura: flutuando
regressou novamente. O traço aceso,
ao redor a paisagem se apagando.
Acordou vendo braços, pernas nuas.
Regressando outra vez, sentiu-se preso.
Saiu, e foi andando pelas ruas.
Do livro: "Livro das Incandescências", Edições
Pirata, 1985, PE;