todos os dias sua casa chora
o sofá xadrez da sala de tv ainda
tem a forma do meu corpo
e o vaso de cristal vazio sobre
o aparador cintila todas
as minhas ausências.
do criado mudo lhe sorrio todas
as manhãs enquanto acompanho
o seu caminhar nu para o chuveiro.
no cabide atrás da porta do banheiro
ainda está o meu roupão azul.
estou em toda parte e em lugar
nenhum. A casa triste não tem
o meu perfume e os vizinhos não
ouvem minha gargalhada incomum.
a empregada falta mas você não nota.
telefone toca, você sai sem rumo
a empregada nota e sente a minha falta.
e todos os dias sua casa chora
todas as horas clama a minha volta.
você sai nas manhãs sem olhar
o meu sorriso no porta-retrato
e ao voltar, ligeiramente embriagado
você se deita, anestesiado
e nem diz boa-noite para saudade
que dorme ao seu lado
sobre os travesseiros de plumas
que comprei um dia
para essa casa sua, hoje vazia
que há um tempo atrás inda era nossa.