Desesperança
Quando o sol vai descambando
— doirando os vales e o mar,
quando o orvalho vai tombando
sobre as folhas a vibrar
quando vai já se apagando
a paisagem do lugar
Eu pergunto suspirando:
"Pois sou eu só a chorar?"
Quando o canto do campeiro
vai dizendo sempre-amor!
Quando o altivo pinheiro
Da tempestade ao fragor
se debruça no ribeiro
qual a tenra débil flor
eu pergunto ao mundo inteiro:
"Pois só eu vivo de dor?"
Quando a estrela vespertina
vai brilhar no céu de anil
a após a peregrina
morrem as outras, à mil,
quando a flor da tangerina
desabrocha no alcantil
pergunto à luz matutina:
"Morreu meu sonho infantil?"
Quando no verde coqueiro
o pirilampo brilhou
e nos fogos do tropeiro
o riso franco ecoou
quando a flor do pecegueiro
ao vento sul desfolhou
eu perguntei ao pampeiro:
"A minha luz se apagou?"
Foi então que amargo pranto
deslisou no rosto meu
e velou-me como um manto
o olhar fito no céu!
E depois em doce canto
que a desgraça entristeceu
Ouvi, tranzida de espanto:
"Tua esperança morreu!"
Do livro "Coletânea de Poetas Sul-Riograndenses" (1834
- 1951), Ed. Minerva, 1952, RJ
Enviado por: Leninha
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