Trevas
Ouve-me ainda! Do sepulcro à noite
Surgem fantasmas soluçando prantos!
— O bronze geme pungitiva nota...
Eu da araponga quero ouvir os cantos.
A tumba é fria... Adormeci? Quem sabe?...
Sinto-me inerte, a tiritar com frio.
Minhas auroras... aonde foram elas?
Minhas auroras de formoso estio?!
Dormi! Quem sabe?... Tanta sombra vejo!...
O meu passado... O que sonhei, meu Deus!
É tudo negro - nem um astro ao menos,
Nem uma estrela a cintilar nos céus!
Dormi! Quem sabe?... Meu sudário envolto
No pó das lousas mareou seu brilho!...
As lindas aves que eu beijava, em ânsias,
Seguiram, loucas, da saudade o trilho!
Olho e não vejo... Despertada, sinto
A alma convulsa a se agitar na dor.
Mas são tão frias estas pedras alvas
Que minha mente já não tem fulgor!
Dormi! Quem sabe?... Já não cantam aves,
De cor celeste já não veste o céu!
Meus lábios frios já não têm sorrisos...
O mundo vejo por nublado véu!
A tumba é fria... Adormeci? Quem sabe?...
Sinto-me inerte, a tiritar com frio.
Minhas auroras... aonde foram elas?
Minhas auroras de formoso estio?!
Do livro "Antologia Paranaense", Editora Livraria Mundial
França & Cia. Ltda, 1938, PR
Enviado por: Leninha
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